Segundo a Wikipédia, a Etologia é a disciplina que estuda o comportamento animal (do Grego ethos = ser profundo, logia = estudo). Está ligada aos nomes de Konrad Lorenz e Niko Tinbergen, sob influência da Teoria da Evolução, tendo como uma de suas preocupações básicas a evolução do comportamento através do processo de seleção natural. Segundo Darwin , cada espécie é dotada de seu próprio repertório peculiar de padrões de comportamento, da mesma forma que é dotada de suas próprias peculiaridades anatômicas.
Os etólogos estudam esses padrões de comportamento específicos das espécies, fazendo-o preferencialmente no ambiente natural, uma vez que acreditam que detalhes importantes do comportamento só podem ser observados durante o contato estreito e continuado com espécies particulares que se encontram livres no seu ambiente.
Infelizmente nós não estamos lidando com a espécie felina no seu ambiente natural, e sim em um ambiente que lhe foi imposto. Dessa forma, precisamos compreender um pouco sobre o comportamento felino antes de instituirmos um manejo adequado para prevenir e corrigir os problemas comportamentais.
No artigo anterior nós falamos um pouco sobre o comportamento felino com algumas características do mesmo que nos ajudam a entender a mensagem que o gato quer passar para nós.
Hoje nós vamos falar um pouco sobre a educação mais importante, que não é a do gato, mas a do cliente.
Atualmente na clínica de felinos, comportamento não é um assunto amplamente abordado nos consultórios, tanto pela falta de interesse do proprietário, que acaba preferindo procurar informações no google, quanto pela falta de preparo e de atenção devida do profissional.
Vou fazer desse espaço uma consulta pediátrica padrão, teremos como personagens a Dona Tereza, uma senhora de 65 anos, viúva, que sempre criou poodles a vida inteira e, assim como outros 5 condôminos do seu prédio, ajudou o porteiro que não sabia o que fazer com 5 gatinhos recém encontrados em uma caixa. A outra personagem será a veterinária, atuante na área há 7 anos, e que trouxe de dentro de casa (são 6 gatos, SEISS) a maior parte da sua experiência com felinos (lembrando que ela também é muito simpática e aparenta ser mais jovem do que é, eheheh). E não podemos nos esquecer do Espirro, um gatinho de dois meses, com os pelos arrepiados, olhos esbugalhados e unhas prontas para cravar no crânio do primeiro que se meter a besta.
Depois de uma hora falando das vacinas, vermifugação, castração e introdução acerca das formas de comunicação dos felinos, a veterinária continua:
-Então, dona Tereza, é necessária a adoção de práticas simples para a prevenção de problemas comportamentais no Espirro, tais como...
-Não estou entendendo, doutora, problemas comportamentais? Eu nunca tive isso com meus poodles, e olha que toda a mobília da casa era deles, eles sempre se alimentavam antes de nós, às vezes faziam xixi ou cocô em cima da cama, não deixavam que a gente encostasse na comida deles, mordiam diariamente o carteiro ou o entregador de gás ou o entregador de água, ou... enfim! Sempre foram assim e nunca tiveram problemas comportamentais.
A veterinária respira fundo e se pergunta: Se isso não era problema comportamental, o que seria então?
-Mas então, dona Tereza, os problemas em felinos são diferentes tanto em ocorrência quanto em intensidade. Eles não vão atacar o seu carteiro, por exemplo, a não ser que seja um Garfield e...
-Garfield?
-Ehnn, humm.... desculpe, dona Tereza, vamos voltar para o foco. Falemos sobre socialização. Os filhotes passam por um período importante de desenvolvimento social, dos 2 aos 7 meses. Nesse período, dona Tereza, eles devem entrar em contato com crianças, sempre supervisionados, com outros adultos, diferentes da senhora. Devem entrar em contato também com outras espécies, como cães, pássaros ou pequenos roedores, sempre supervisionados. Esses encontros devem ser agradáveis e que não ofereçam perigo ou ameaça para o Espirro ou para os coleguinhas dele. O ideal seria que ele também entrasse em constato com outros gatos adultos, para aprender a não morder ou arranhar quando estiver brincando, pois vai estar respeitando uma hierarquia social. Além disso, ele vai aprender comportamentos de afeto entre os gatos, como se lamberem, se acarinharem, contato entre os narizes dos gatos, a prática de dormirem juntos, e por aí vai.

-ATACAR?????
-Sim, dona Tereza, mas a gente vai evitar isso né... e não dói assim, não. Continuando: o gato não destrói uma mobília nova porque ela é nova ou porque ele é mal, mas porque ele precisa exercer o comportamento de arranhadura, como eu expliquei anteriormente para a senhora (lá no outro artigo). Antes que ele comece a arranhar onde não deve, a senhora deve fornecer arranhadores próprios para ele, estimule o seu uso colocando perto do local onde ele planejava ou já estava arranhando, brinque com ele ao redor do arranhador ou passe a erva do gato (catnip) nesse artefato.
-Doutora, tudo bem, eu estou entendendo, mas, veja bem, eu preciso que ele faça o xixi e o cocô no postinho, como meus poodles faziam, ou nos passeios de coleira. Ele está fazendo no box do banheiro e isso é inadmissível.
-Bom, dona Tereza, a senhora deve colocar na casa uma caixa de areia. Essa caixa deve ser grande, isto é, medir, em seu comprimento, o tamanho de dois gatos adultos, estar sempre limpa e abastecida com a areia higiênica . O tamanho grande é importante para que o gato possa exercer seu comportamento de cavar, caminhar, defecar ou urinar, dar a volta e enterrar. Gatos são como humanos, eles não gostam de defecar ou urinar em banheiro sujo, não se esqueça. Uma areia higiênica de qualidade irá manter o “banheiro” seco e sem odor, por mais tempo.
-Onde eu compro isso?
-Em petshops a senhora encontra a caixa e a areia. Infelizmente a maioria das caixas do mercado são pequenas, então pode até ser em casa de material de construção, aquelas caixas de pedreiro mesmo. Outra coisa importante, quando o gato está defecando ou urinando, ele está no seu momento de maior vulnerabilidade. Ele precisa ficar de olho em predadores, dona Tereza..
-Não há predadores na minha casa, doutora...
-Sim, eu sei, a senhora sabe mas o instinto do Espirro não sabe, e nunca vai saber. Ele vai estar sempre alerta por toda a vida, portanto, a caixa de areia não deve ser coberta, para que ele tenha ampla visão dos arredores.
-Agora vamos falar como faremos para introduzir um novo gato em casa...
-Doutora... desculpe, mas podemos falar sobre isso depois? O Espirro, por enquanto, é filho único e, apesar dele ser adorável, eu não acho que vá querer outro gato tão cedo.
A veterinária e a dona Tereza se despediram, então a veterinária não pôde evitar o pensamento:
"É dona Tereza, pode se enganar pensando que a senhora vai se contentar só com um gato. Uma vez que nos viciamos nessa espécie, é difícil parar. Mas, a gente pode sim falar sobre a introdução de outro gato uma outra hora. Lá se vai outro criador de poodles que nunca mais criará poodles."
É isso aí pessoal, vamos continuando a falar sobre comportamento felino daqui 15 dias. Porque daqui a 18 dias será o início da Pet South América 2011 (www.petsa.com.br) e o Tudo Gato estará lá fazendo uma cobertura exclusiva com a veterinária mais simpática do Blog... a única :)
Alice Ribeiro
diarioveterinaria.blogspot.com
twitter: @alicevet