Olá gente, hoje vamos falar sobre uma verminose muito importante em gatos, a platinossomíase. Se o nome é feio, imagine a doença, não é nada, nada bom. Essa verminose é um pouco diferente daquelas que estamos acostumados, e que prevenimos com vermífugos. Ela é causada pelo parasita trematódeo Platynosomum concinnum e a prevenção desta verminose é muito mais complexa, pois está diretamente relacionada com o hábito de caça do gatinho.

Mas vamos falar um pouco sobre esse parasita para podermos entender a sua importância clínica e epidemiológica. Segundo o quadro abaixo, a sua distribuição geográfica é quase que total nas Américas e observe que a América do Sul está toda pintadinha.

Foto: Distribuição geográfica da planitossomíase. Extraída do livro: Feline Clinical Parasitology

Esses parasitas, quando infectam os gatos, vão se localizar na vesícula e ductos biliares, o que pode levar a um caso grave de obstrução dessas vias, com lesões no fígado, consequentemente. Em infecções iniciais, o gato pode apresentar episódios ocasionais de depressão, diarreia e falta de apetite. Ao exame físico observa-se perda de peso, icterícia (coloração amarelada) leve nas mucosas e aumento discreto do fígado. Em infecções graves e complicadas, são observadas diarreia e perda de peso marcante, com icterícia mais evidente (em mucosas e pele).

Foto: Mucosa ictérica do felino acometido com platinossomíasse. Extraído do artigo Diagnóstico de Platinossomíase em felinos atendidos no Hospital de Clínicas Veterinárias (HCV) da UFRGS. Fonte: Professora Fernanda Amorim
O diagnóstico vai combinar o histórico, sinais observados no exame físico, ultrassonografia do fígado e vesícula biliar com observação dos ductos biliares dilatados e aumento do fígado, citologia e exame histopatológico (biópsia) da bile e/ou fígado, e a observação de ovos nas fezes. Entretanto a não observação de ovos nas fezes não descarta a infecção. É muito importante o clínico informar a suspeita para o laboratório, pois há técnicas diferentes no exame de fezes que facilitam a visualização de certos ovos, e os do Platynosomum concinnum, é um caso desses.

O tratamento vai envolver uso de antiparasitários específicos. Na nossa prática clínica, nós gostamos de pesquisar relatos de casos recentes das verminoses para comparar os resultados dos protocolos utilizados, bem como a literatura específica. 

Agora, a parte mais importante eu deixei para o final, que é: como o meu gatinho vai se contaminar com esse parasita?

Para entender a forma de transmissão eu vou falar sobre o ciclo de vida dele. O gato infectado vai eliminar os ovos embrionados do parasita no ambiente. Estes são consumidos por um caramujo, que após algum tempo vai depositar no solo os esporocistos. Os esporocistos são consumidos por algum isópode terrestre, que vai posteriormente ser caça de um lagarto, lagartixa, sapo ou rã. Após algumas semanas o parasita já sofreu outra transformação no último hospedeiro, e este será então a caça do gato. 

Foto: Ciclo do Platynosomum concinnun. Extraída do artigo Uso do Endal® gatos no tratamento da platinossomíase felina.
Fonte: Mariana Sampaio Anares da Silva
Devido aos sinais tão inespecíficos de verminose, aonde o diagnóstico pode ser confundido com várias outras doenças hepatobiliares, e ao difícil diagnóstico, a melhor forma de prevenção ainda é evitar o hábito de caça do animal. 

Mesmo que se ache tão complexo esse ciclo de vida, e tantos passos que o parasita precisa passar para poder infectar um gato, é importante saber que a platinossomíase é muito mais comum e subdiganosticada do que se imagina. 

Portanto se o seu gatinho tem o hábito de caça a lagartos, lagartixa (jacarezinho para o pessoal do sul), sapo ou rã, existe a possibilidade de infecção. É importante tentar evitar que o animal tenha acesso a essas caças. Deve-se impedir que o gato saia para a caça e em ação conjunta pode-se enriquecer o ambiente deste, colocando brinquedos de caça, escondendo o alimento, etc.

É isso aí gente, fiquem atentos para qualquer mudança de comportamento do seu bichano, e procure o veterinário sempre que precisar.

Até mês que vem.

Dra. Alice Ribeiro de Oliveira Lima

Literatura consultada:
Diagnóstico de plationossomíase em felinos atendidos no Hospital de Clínicas Veterinárias (HCV) da UFRGS. SILVEIRA, E., ELESBÃO, B.S.; MARQUES, S.T.; COSTA, F.V.A. Disponível em 07/05/2015 em https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/98717/Ensino2013_Poster_33059.pdf?sequence=2
Feline Clinical Parasitology. BOWMAN, D.; HENDRIX, C.M.; LINDSAY, D.S.; BARR, S.C. 2ª Ed. Yowa State University Press, 2002, 469p. 
Uso do Endal® gatos no tratamento da platinossomíase felina. M. S. ZANUTTO, M. A. O. ALMEIDA, A. B. JUNQUILHO3, M. S. A. SILVA, R. X. SILVEIRA, P. L. FATAL. Disponível em 07/08/2015 em http://www.msd-saude-animal.com.br/binaries/a-efic-cia-do-endal-gatos_tcm81-55202.pdf. 



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