Dias atrás, estávamos assistindo a uma série do canal Discovery Home & Health, chamada Acumuladores.
O programa reúne casos de pessoas que sofrem de colecionismo (ou hoarding), uma variedade do transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), cuja principal característica é a necessidade incontrolável de armazenar objetos.

Algumas manifestações do TOC são mais conhecidas, como a obsessão por limpeza. Outras, mais peculiares, como quando pessoas associam ações a consequências, sem nenhuma lógica, como uma pessoa que só pisa nos quadrados brancos em pisos quadriculados ou verifica se a porta da casa está fechada incontáveis vezes.

Além do desejo de juntar objetos, o colecionador não consegue se desfazer de nada, sequer do lixo. As vítimas do transtorno têm a sensação de que tudo aquilo terá uma serventia um dia. O armazenamento excessivo acaba comprometendo a vida da pessoa que tem o distúrbio e de quem a rodeia.

Quem nunca conheceu ou ouviu falar de alguém, geralmente uma senhora, que tem a casa lotada de animais (na maioria das vezes, gatos), não doa nenhum deles e se sustenta - e aos bichos - precariamente, muitas vezes às custas da ajuda de pessoas que se sensibilizam da situação? Quem nunca conheceu ou ouviu falar de uma “louca dos gatos”? Aquela que detesta todos os vizinhos pois acha que existe um complô para envenenar todos os seus gatos (nem sempre isso está longe da verdade, diga-se de passagem)? A “louca dos gatos” é uma figura tão folclórica que virou personagem dos Simpsons e action figure.

A coleção de animais (animal hoarding) nem sempre tem uma causa clara ou específica. Algumas vezes está associada a um desequilíbrio no cotidiano que faz com que a pessoa perca os parâmetros de sua relação com os animais.
Nos Estados Unidos, um grupo de pessoas fundou, em 1997, a HARC (Hoarding of Animals Research Consortium) para estudar esse comportamento. Suas pesquisas revelaram que três quartos de colecionadores são femininos; três quartos são solteiros, divorciados ou viúvos; mais da metade mora só; quase a metade têm 60 anos ou mais e 37% estão entre 40 e 59 anos.

Vejam bem, o que caracteriza um colecionador de animais não é necessariamente a quantidade de animais que ela tem. Nós temos seis gatos e dois cachorros. Conhecemos quem tem 10, 15 ou 20 gatos. Mas eles não são colecionadores. São apenas apaixonados pelos bichanos. São pessoas saudáveis, que mantém seus animais da mesma forma.

A coleção de animais é um distúrbio de comportamento que pode ser identificado por alguns sinais:

- Inabilidade de recusar um animal necessitado, mesmo que tenha muitos em casa;
- Má vontade em doar o animal resgatado. Acredita que ninguém tem as características necessárias para cuidar do animal;
- Incapacidade de prover condições adequadas à quantidade de animais que mantém;
- Não tem a capacidade de entender a deterioração progressiva da saúde e higiene de seus animais, (não reconhece a doença, a morte e a fome) e do meio onde se encontram.
- Afastamento das relações sociais e de trabalho;
- Deterioração gradativa do ambiente onde vive e da própria saúde.

Nós, que trabalhamos diretamente com animais abandonados, estamos no que podemos chamar de “grupo de risco”. Desde que nos envolvemos com isso, já conhecemos algumas pessoas que, se ainda não são colecionadores de animais, estão perigosamente se equilibrando na amurada.
Essas pessoas ainda sofrem com um agravante: os “amantes de animais com chapéu alheio”. Algumas pessoas não conseguem ver um animal abandonado nas ruas mas também não se dispõem a recolhe-lo em sua casa. Acabam levando o bichinho para aquela pessoa que adora animais, com a promessa de que “é temporário”, “apenas até ser adotado”, prometendo oferecer toda a ajuda necessária. Como essa pessoa é incapaz de dizer não, acaba com mais um animal, numa casa já incapaz de abrigar os que lá estão. Sem contar aqueles que abandonam ninhadas indesejadas em sua porta tendo-a como referência de alguém que gosta de animais.
Há várias histórias de colecionadores na internet. Há várias correntes de e-mails pedindo ajuda para essa ou aquela pessoa, que mantém, à duras custas, uma quantidade enorme de animais abandonados. Convém checar antes de ajudar. Algumas vezes a ajuda apenas está alimentando um ciclo vicioso de uma doença.

Para se ter um animal saudável, em primeiro lugar é preciso estar saudável. Para se ter 20, é preciso estar 20 vezes mais saudável. Manter um animal é uma responsabilidade enorme. Nós somos os tutores. Nós somos os responsáveis por suprir as necessidades dele, nunca o contrário.

Alguns links para saber mais sobre o assunto:
Universo Pet: Colecionador de animais
Gato Verde: Colecionadores de animais
Revista Época: Doutor em psicologia explica a síndrome dos colecionadores de animais
Animal Planet: Confessions – Animal Hoarding (excelente, não deixem de acessar!)

Carol e Allan
http://miaaudote.blogspot.com/
twitter: @miaaudote



9 comentarios:

Zanarde disse...

Nunca tinha parado para pensar nesse tipo de TOC. Realmente esse é um grave problemas. gostei bastante de ter abordados esse tema, fez pensarrr.
Espero estar muito saudavel para ter mais gatinhos...
Bjsss

Madam Maxwell disse...

Eu VIVO isso. Minha mãe é colecionadora a parte pior são os que aqui no artigo são chamados de "amantes de animais com chapéu alheio" p/ tirar uma parte dessa mentalidade da vizinhança foi complicado, Sou conhecida como "a difícil" Mas morar na minha casa, Segurar todas as "pontas", ninguém quer.. Enquanto isso quem acaba no psiquiatra, tomando remédio, sou eu. Amo os gatos e cães q temos, a turma toda e jamais deixaria de ter a companhia de algum "peludo", Mas tenho q saber meu limite p/ cuidar BEM deles.

Heloisa disse...

Excelente post e isso é mais comum do que se pensa!Em casa,sempre tivemos animais recolhidos das ruas,mas sempre tivemos um limite.
Eu também já vi casos de "protetoras" que recolhem todos os animais que encontram,os levam para casa e mesmo sem terem condições de mantê-los,não se preocupam em doá-los! Tudo bem que várias pessoas contribuem com dinheiro, ração,etc,mas o que falta não é só dinheiro,há falta de espaço físico e instalações adequadas para manter todos saudáveis.
Anos atrás,tiveram um surto de cinomose no local, que acabou causando a morte de alguns cães. Por mais boa vontade que digam ter e por mais que haja quem acredite nisso,a verdade é que,em vez de ajudarem,acabam prejudicando os animais.Uma coisa é demorar para conseguir doar algum animal,acho que isso é até comum,mas outra coisa,bem diferente, é nem se preocupar em dar uma chance para que esses animais tenham um lar!

João Víctor disse...

Gente, eu sempre pensei que esse tipo de coisa era causada por uma solidão incontrolável, sendo os gatos a única companhia dessas pessoas. Talvez isso não deixe de ser verdade (as estatísticas não mentem), mas a agora percebo que tem mais coisa envolvida. É uma pena, animais e pessoas saem prejudicadas nesse tipo de relação.

Rô Rezende disse...

Assunto super pertinente.
João, também achava que era um lance de solidão e de dificuldade de relacionamento, acho que é a primeira explicação que vem, mas depois que analisamos mais a fundo o problema, parece que muitas pessoas começam com a obssessão e depois desenvolvem as dificuldades de relacionamento, né?

Acho que eu quase estou no grupo de risco, e se pudesse, provavelmente já teria adotado mais gatinhos. Mas não consigo pensar na casa muito cheia porque, até mais do que alimentação e espaço, sei que não conseguiria dar atenção e carinho para todos. Prefiro só meus dois mimados mesmo.

Gisele Oliveira disse...

Rô! Vc tem dois gatos e se acha no grupo de risco? Imagine eu que tenho 08, e uma que está com 03 na barriga! Só não me considero uma doente(ainda) porque consigo ver muitos animais na rua e não pegar os mesmos. E todos os que tenho foram encontratos em situações de risco. Tento tb manter um ambiente limpo e saudável, pois sei que o bem estar de todos está acima de tudo. Mas nós protetores devemos ter esse cuidado de não passar a fronteira do amor e cair na doença! Espero que eu consiga reconhecer meu limite! Valeu pelo alerta!

lucianaccc disse...

Eu tenho 12 e luto todo dia contra o colecionismo, pq a vontade era pegar todo gato q vejo abandonado na rua.

Anônimo disse...

agora tem um programa no animal planet chamado Acumuladores de Animais

Boliana disse...

Uma vez uma amiga minha encontrou uma caixa com 2 gatinhos,ela diz que adora animais mas não têm nenhum e ela tem todas as condições.
Eu tenho 13 e uma ta gravida e ela ainda queria que eu fica-se com os gatos.Mas mandei-os para a SPAD(sociedade protetora dos animais).

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