1 de fev. de 2013

A Vida de Pi | Gato Geek

 
Poster do filme
Se você soubesse quem você é... até onde vai a sua fé...

O Big Brother Brasil está de volta às telinhas e você, gostando ou não do programa, acaba vez ou outra escutando essa musiquinha numa vinheta ou alguma aparição relâmpago falando sobre os habitantes da casa mais vigiada do país.

Mas eu não vou falar sobre o reality global, obviamente. A questão é que numa dessas vezes em que a canção tocou essa frase, me chamou a atenção e me remeteu a um livro que li pouco tempo atrás, e que agora está em absoluta evidência, com sua belíssima adaptação para o cinema.

A Vida de Pi não podia estar mais em alta. Sucesso de público e crítica, a obra do ganhador do Oscar®, Ang Lee (O Segredo de Brokeback Mountain) que conta a história do menino indiano sobrevivente de um naufrágio já rendeu onze indicações ao principal e mais cobiçado prêmio da indústria cinematográfica. A película, do ponto de vista técnico, é um verdadeiro triunfo visual. A tecnologia tridimensional muito bem aplicada faz com que as imagens saltem aos olhos de forma magnífica. Com sequências de fazer perder o fôlego, uma fotografia linda e coesa acompanhados por uma trilha sonora de singular beleza, sugerindo meditação e reflexão. A atuação de Suraj Sharma no papel do protagonista também merece destaque, relembrando outros ótimos momentos do cinema como O Náufrago ou Eu Sou a Lenda onde os atores têm que se desdobrar para, sozinhos, passarem emoção e convencerem o público.

Pi Patel é um garoto bastante peculiar. Seu pai, dono de um zoológico em Pondicherry, na Índia, representa o homem cético, absorto em seu trabalho e crente apenas na ciência. Já a mãe de Pi é uma mulher de fé e temente aos preceitos do hinduísmo e suas 330 milhões de divindades. Crescendo nesse ambiente, o garoto aprendeu tudo o que podia sobre os estudos, as religiões (ele mesmo tinha três, absolutamente diferentes) e claro, os animais.

Cena do filme - Imagem: Divulgação
É quando seu pai decide se mudar com a família para o Canadá, levando seus animais num navio que Pi fica desolado. No meio do Oceano Pacífico, durante uma tempestade, o jovem indiano perde seus entes queridos e embarca numa jornada individual dentro de uma pequena embarcação salva-vidas e terá uma companhia totalmente inesperada: um tigre de bengala. Pi terá que colocar à prova suas crenças enquanto busca um meio de sobreviver à fome, à sede, ao mar e ao tigre.

Apesar do mote de aventura, A Vida de Pi não é uma mera história de sobrevivência de um náufrago em condições desafiantes e impossíveis. Embora tudo isso esteja presente, o enredo serve como um simples apetrecho para um quadro de representações alegóricas de vários atributos da vida: o instinto de sobrevivência, a fé e também o afeto.


Capa do livro
Com todos esses elementos interligados, o filme não faz juízos de valor sobre cada um deles, remetendo tal escolha para o espectador. E essa decisão é feita conforme a sua própria disposição na vida, na fé e nos relacionamentos. O próprio Pi revela-se uma personagem confusa, inicialmente na religião - seguindo três teologias - e mais tarde na jornada que realiza através de vislumbres e ocasiões improváveis.

Os momentos em que o menino precisa aprender a dosar confiança e medo com relação ao tigre, ao mesmo tempo em que precisar manter ambos vivos é formidável. Cada interação dos dois nos envolve de forma fabulosa, seja compartilhando do receio de um ataque iminente por parte do felino gigante ou mesmo quando juntos tem de enfrentar as tormentas de um mar bravio. Companheiros ou rivais na sobrevivência? Essa dupla duvidosa de navegantes tem que aprender juntos a respeitar o espaço um do outro por um bem-comum. E o espetáculo e a perfeição com que o lindo tigre nos é mostrado na tela é cativante.

Se no fim Pi, agora já adulto que conta sua história a um escritor, nos apresenta com duas versões dos fatos - ainda que o filme apenas desenvolva uma - a confusão já não é mais somente de Pi, mas do espectador que deve escolher entre a fantasia e o real, entre as suas próprias convicções e o limite da sua crença.E o desafio é lançado logo no início quando Pi diz ao escritor: "vou lhe contar uma história que te fará acreditar em Deus".

Não significa, de forma alguma que o espectador se aliará às conclusões a que Pi e o escritor chegam; podem, na realidade, ser absolutamente contrárias, e é exatamente aí que residem a força e a importância desse filme. A Vida de Pi questiona e sugere, toma uma posição, mas o fundamental é que ele deixa terreno vazio para o caminho que cada um quiser construir.


Acredito que Ang Lee com essa adaptação, tem em suas mãos o filme mais significante da sua carreira. O empenho do diretor taiwanês em gerar reflexão é perceptível na forma como agarra com sentido cada imagem e como transforma simples cenários de um barquinho sobre a água em quadros que remetem para o subliminar e para o espiritualismo.

O livro homônimo de Yann Martel que deu origem ao filme era considerado impossível de filmar, mas Ang Lee, tal como Pi na história, contorna o impossível e chega a um porto seguro.

Alison
twitter: @menino_magro



3 comentarios:

Marilia disse...

Boa dica!

Alexandra Martins disse...

Queria muuuito assistir!!!

Ana Piacente disse...

Nossa, vocês descreveram muito bem o filme. Realmente Ang Lee conseguiu trazer o que parecia impossível para as telas e transformar em um dos melhores filmes que já vi. A história é também incrível, nos deixa um pouco confusos, e essa é a melhor parte. Pois a escolha de qual história vamos acreditar, depende apenas da nossa fé.
A resenha ficou maravilhosa, parabéns!

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