Figura 1

Há três semanas atrás eu estava no paraíso das mulheres, em uma loja fantástica onde só tinha maquiagem, cremes, shampoos, e tudo que precisamos para nosso bem estar físico e principalmente emocional. Foi uma viagem ao Paraguay, e grande parte das minhas amigas perguntou: Alice, comprou o creme da Victoria Secret?

Pois é meninas, vocês sabem do que eu estou falando, do creme básico ou requintado, do corpo, mãos, pés, rosto e até pálpebras. Mas isso me deixou pensando, será que nós, gateiras modernas (e gateiros também) prestamos a mesma atenção na pele nos nossos bichanos?

Venho falar hoje para vocês da doença infecciosa de pele mais comum em gatos, a Dermatofitose.

Essa doença tem grande importância pois é clinicamente muito variável, difícil de se tratar e traz um grande risco zoonótico (antropozoonose: doenças transmitidas de animais para humanos e vice-versa)
A dermatofitose é causada por fungos queratinofílicos, sendo o Microsporum gênero mais comum. Este fungo não faz parte da flora natural da pele do gato, a doença lhe é transmitida pelo contato com outro animal infectado ou no ambiente.

O comportamento de lambedura dificulta o estabelecimento dos esporos e portanto observa-se maior incidência da doença em filhotes recém separados das mãe (principalmente na face) e em gatos de pêlo longo (pela dificuldade maior em se lamber). Da mesma forma o comportamento de lambedura e banhos excessivos podem deixar a pele mais susceptível ao estabelecimento da infecção pela retirada das barreiras naturais e pelo aumento da umidade dos pêlos.


Figura 2


Os fatores de risco são:
• Animais muito jovens ou muito velhos
• Má nutrição
• Presença de ectoparasitas
• Imunossupressão
• Animais que vivem em colônias e a exposição daqueles que frequentam shows.

Os sinais clínicos variam bastante. O prurido (coceira) pode estar ausente ou intenso, diferente do que acontece com cães com essa infecção, pois eles não se coçam. Também pode ocorrer a perda de pêlos que se apresenta nas formas simétrica (figura 1), assimétrica, irregular ou arredondada, com lesões acompanhadas ou não de inflamação, principalmente nos membros e face (figuras 2 e 3). Outras lesões encontradas com menor frequência incluem dermatite esfoliativa, seborréia, acne no queixo e nódulos.

Uma vez observadas essas lesões, o gato deve ser levado ao veterinário que vai lançar mão de uma série de exames para o diagnóstico como: exame direto de fungo, cultura fúngica e até biópsia de pele. Atualmente várias clínicas no Brasil, até as menores, estão equipadas com um microscópio e o kit de meio de cultura. O resultado do exame direto fica pronto no mesmo dia, já o da cultura demora cerca de 45 dias, entretanto são necessários para o uso da terapia mais correta.

Uma vez estabelecido o diagnóstico, inicia-se o tratamento, e este pode incluir:
• Tosa do animal para minimizar o risco de contágio, principalmente em animais com lesões extensas;
• Antifúngico oral (exceto para gatas gestantes)
• Terapia tópica como shampoos e/ou loções com ação antifúngica
• Vacina contra Dermatofitose (uso recomendado apenas como terapia adjuvante)

Figura 3

Geralmente o tratamento é realizado de 6 a 8 semanas, podendo se estender por mais tempo.

Após esse período o gato deve ser monitorado sempre, em todas as consultas de rotina, em busca de lesões. A terapia no ambiente deve ser agresiva, de preferência jogando fora todos os brinquedos, caminhas, toalhas, arranhadores. Todas as superfícies da casa devem ser limpas com aspirador.

Ah, não se esqueçam, essa doença pode ser transmitida para outros animais e para os humanos também, portanto, deve-se ter muito cuidado no manejo. A primeira vez que eu peguei um caso de dermatofitose foi interessante, a proprietária apresentava uma lesão arredondada na bochecha e eu perguntei:
- A gatinha dorme com a senhora?
- Sim, como você sabe?
- Por causa da lesão na sua bochecha.
- Não, Alice, isso é alergia, já to tratando com uma pomada.
- E melhorou?
- Eh... não.
- Então usa a pomada da gatinha.

Enfim, ambas ficaram boas.

Até breve, pessoal!

 Alice Ribeiro
diarioveterinaria.blogspot.com
www.formspring.me/alicevet
twitter: @alicevet


Referência e fonte das imagens: GUAGUÈRE, E. PRÉLAUD, P. A practical guide to Feline Dermatology, 1999.



2 comentarios:

Marcelo Samegima disse...

Muito interessante a matéria. Nos, veterinários, devemos pedir mais exames laboratoriais, para um melhor diagnostico. Devemos fazer uma campanha: sim aos exames laboratoriais veterinários.

Anônimo disse...

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-736X2010000200006





Pesquisa Veterinária Brasileira - Lufenuron no tratamento da dermatofitose em gatos?
www.scielo.br.












Em função de controvérsias sobre a eficácia do lufenuron no tratamento da dermatofitose causada por Microsporum canis, o efeito da droga foi avaliado em 46 gatos (30 com lesões cutâneas e 16 portadores assintomáticos) atendidos no Hospital Veterinário da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Brasil. O diagnóstico foi estabelecido através da lâmpada de Wood, da cultura fúngica e, adicionalmente, na maioria dos animais sintomáticos, pela avaliação histopatológica da pele. Os animais foram tratados com 120mg/kg de lufenuron, a cada 21 dias (quatro doses); a droga mostrou-se eficaz no tratamento de 29 dos 30 felinos que apresentaram a forma clínica da dermatofitose, bem como no de todos os animais assintomáticos. O único felino que não teve cura clínica completa havia recebido várias doses de dexametasona antes do inicio do tratamento. Em um animal gestante, foram utilizadas duas doses do lufenuron e não foi observada qualquer alteração clínica e morfológica nos filhotes. Nenhum dos animais tratados teve qualquer reação adversa ao medicamento. Vinte dias após o último tratamento, o exame micológico resultou negativo em 45 dos felinos estudados (98%). Embora o lufenuron tenha o custo um pouco mais elevado do que o do cetoconazol, é uma droga que apresenta praticidade e margem de segurança bem maiores. Vale ressaltar que o sucesso do tratamento está diretamente relacionado à correta utilização da droga, assim como a perfeita higienização do ambiente e dos utensílios dos animais.












http://shop.owndoc.com/product-info.php?lufenuron-pid170.html









Algumas pessoas leram Lufenuron que é "tóxico", e eles acreditam erroneamente que este significa que Lufenuron é tóxico para os seres humanos ou mamíferos, em geral, que não é. lufenuron afeta apenas os organismos muito primitivos que utilizam quitina. Os únicos seres vivos que utilizam quitina são:
- Fungos
- Parasitas intestinais
- Insetos, artrópodes, aracnídeos
- zooplâncton




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